Sua música foi inspirada no Punk Rock e no Rock Alternativo e foi chamada “Grunge” pela imprensa e meios de comunicação da época (termo que todas as bandas da época rejeitavam). O grupo se desfez em 1994 com a morte de seu líder, Kurt Cobain.
Nirvana
Quando ganhou sua primeira guitarra elétrica no seu décimo quarto aniversário, depois de escolher entre esta e uma bicicleta, Kurt logo começou a aprender algumas músicas e tocava alguns covers, como de “Back in Black” do AC/DC e “My Best Friend’s Girl” da banda The Cars. Sem demora, começou a trabalhar em suas próprias canções.
Durante o Ensino Médio, quando aprimorava seu dom de guitarrista, nunca encontrou ninguém para tocar de modo espontâneo e divertido, até que conheceu o amigo Krist Novoselic. A mãe de Krist era dona de um salão de beleza e os dois começaram a ensaiar eventualmente na sala que ficava no último andar do prédio. Nessa época, deu a Novoselic uma fita demo de sua banda ou projeto pessoal, Fecal Matter. Depois de alguns meses de indecisão, Krist finalmente ouviu a fita e gostou. Acabou por concordar em formar uma banda juntamente com seu mais novo amigo, que resultaria no Nirvana.
Cobain e Novoselic formam sua primeira banda, chamada Stiff Woodies, que logo se desfez. Quando estavam em vias de cada um seguir seu próprio caminho, a dupla descobriu que os Melvins conseguiam ganhar 80 dólares por show realizado. Isso deu ânimo aos dois, que passaram a atuar sob o nome de The Sellouts, fazendo covers de Creedence Clearwater Revival. Kurt toca bateria, Novoselic toca guitarra e canta, e um certo Steve Newman assume o baixo. Em janeiro de 1987, Cobain e Novoselic conhecem Aaron Burckhardt, que passa a ser o baterista fixo do trio, que seguirá mudando de nome até 1988: Skid Row, Bliss, Throat Oyster, Pen Cap Chew e Windowpane. Nesse período Kurt e Novoselic assumiram seus postos musicais fixos: vocalista e guitarrista e baixista, respectivamente. Kurt tornara-se também o compositor da banda. Em 17 de abril, com o nome de Skid Row, o trio toca ao vivo na rádio comunitária KAOS, na Evergreen State College, em Olympia. A apresentação se transforma na primeira fita demo da banda. Em outubro, Aaron sai da banda, que passa a ensaiar com Dale Crover, que integrava os Melvins. É uma solução breve, apenas para a gravação de uma fita demo decente em um verdadeiro estúdio.
Em 23 de janeiro de 1988, Kurt, Novoselic e Crover gravam no Reciprocal Studios, em Seattle, com o produtor Jack Endino, que abriu o local em 1986. O trio sem nome definido grava dez músicas em seis horas. Naquela noite, a banda se apresentaria com o nome de Ted Ed Fred em Tacoma, cidade vizinha. Em fevereiro, Jonathan Poneman, da Sub Pop, ouve a fita demo depois de um toque de Jack Endino e gosta. Marca uma conversa com Kurt em um café em Seattle. Os dois acertam a gravação de um compacto. Em março, a banda escolhe seu nome definitivo, Nirvana, que é usado pela primeira vez num show em Tacoma, com Dave Foster na bateria. Ele logo seria dispensado. Em maio, Chad Channing assume o posto de baterista definitivo. Em junho, o Nirvana grava músicas para seu primeiro compacto pela Sub Pop. “Love Buzz/Big Cheese” saiu em novembro.
O interesse por um álbum crescia, não só pela banda, mas também pelos funcionários da Sub Pop. As sessões finais de gravação para o disco de estréia da banda - Bleach - aconteceram em dezembro de 1988. Em fevereiro de 1989, Jason Everman é escalado como segundo guitarrista da banda e faz sua estreia em um show na Universidade de Washington. Amigo de Chad Channing, Everman emprestou 600 dólares para pagar o tempo de estúdio das gravações de Bleach - a título de curiosidade, Jason nunca chegou a ser reembolsado. Embora não tocasse no disco, seu nome foi impresso na capa como membro da banda e segundo guitarrista. Em 15 de Junho, o trabalho é finalmente lançado pela Sub Pop e bem aceito pelo público e crítica. A banda sai em turnê, inclusive pela Europa, e ganha holofotes de grandes mídias.
O baterista Chad Channing deixa o Nirvana alegando incompatibilidade musical. Em 1990, o guitarrista e vocalista dos Melvins, Buzz Osborne, encorajaram Novoselic e Cobain a procurarem por uma banda punk chamada Scream. A dupla ficou muito impressionada com seu baterista, Dave Grohl. Semanas depois, o Scream desintegrava-se - era a deixa para Dave envolver-se com o Nirvana. Dave ligou para Osborne dando o recado, quando Osborne deu a ele o número de telefone de Krist. Krist acabou convidando Dave para viajar até Seattle para uma conversa bastante promissora. O baterista fez um teste e passou com louvor. O Nirvana encontrava seu melhor baterista e a banda transforma-se numa verdadeira máquina.
A banda começou a gravar seu segundo disco, a obra-prima Nevermind, lançada em setembro de 1991. O disco catapultou a banda para o mainstream e transformou-a num fenómeno mundial . O disco vendeu cerca de 25 milhões de cópias no mundo todo e é considerado um dos mais importantes e influentes da história do rock.
A banda seguiu sua enérgica carreira e lançou novos discos: a compilação de raridades e lados-B Incesticide, em 1992, e um terceiro álbum de estúdio, em 1993, In Utero. No mesmo ano, o grupo gravou uma apresentação acústica para a MTV. Todos os discos tornaram-se verdadeiras obras de arte e são aclamadas mundialmente. O Nirvana acabou por desintegrar-se após o trágico suicídio do Kurt Cobain, em 5 abril de 1994.
Casamento
Courtney Love viu Kurt, pela primeira vez, durante um show do Nirvana em Portland, estado de Oregon, no ano de 1989. Os dois tiveram uma rápida conversa naquela noite e Love logo desenvolveu uma queda pelo cantor. De acordo com o jornalista Everett True, os dois foram formalmente apresentados apenas em maio de 1991, em Los Angeles, durante um concerto das bandas L7 e Butthole Surfers]. Nas semanas que se seguiram, depois de descobrir através de Dave Grohl que Cobain também sentia-se atraído por Courtney, ela começou a persegui-lo. Mais algumas semanas e os dois se viram saindo juntos, o que começou no outono de 1991.
O namoro resultou na gravidez de Courtney, que descobriu estar esperando um bebê de Kurt em janeiro de 1992. Logo o casal decidiu se casar, cerimônia que aconteceu em 24 de fevereiro de 1992, na Praia de Waikiki, no Havaí. Na época, Kurt disse à Sassy durante uma entrevista: “Nos últimos dois meses me tornei noivo e minhas atitudes mudaram radicalmente. Não acreditava no quanto estava feliz. Muitas vezes nem me tocava que estava numa banda em plena atividade, de tanto que eu estava cegamente apaixonado. Sei que isso parece meio constrangedor, mas é verdade. Poderia abandonar a banda bem agora. Isso não importa, mas estou sob contrato.”
Em 18 de agosto de 1992 nasce a filha do casal. Courtney Love dá a luz à Frances Bean Cobain, uma bebê linda e saudável. Seu nome do meio (que significa “feijão” em português) foi dado a ela por Kurt, que dizia que a filha parecia um feijãozinho durante os primeiros exames de ultra-som. O primeiro nome parece ter vindo de uma admiração que Kurt tinha por Frances Farmer (atriz de cinema e teatro) e/ou por Frances McKee (cantora da banda The Vaselines).
Courtney costuma ser bastante impopular pelos fãs do Nirvana. As críticas mais verozes a acusam de ter se aproximado de Kurt apenas com o intuito de tornar-se famosa. A mídia que compara Kurt Cobain com John Lennon costuma comparar, também, Courtney Love com Yoko Ono. Rumores apontam que o disco “Live Through This”, considerado o melhor álbum da banda Hole, banda de Love, teria sido quase que totalmente composto por Kurt. O boato tornou-se ainda mais forte após o surgimento de uma versão de “Asking for It” em que Kurt cantava nos backing vocals, mas não existem evidências fortes que confirmem a veracidade dos rumores.
Na época, uma canção do Hole co-escrita por Kurt foi inteiramente creditada ao Hole. Se trata de “Old Age”, que apareceu num lado-B no single de “Beautiful Son” e que o Hole tocou durante sua apresentação para o Acústico MTV em 1995. Entretanto, em 1998, surgiu uma versão da música totalmente tocada pelo Nirvana, furo do jornal de Seattle The Stranger. No artigo, Krist Novoselic confirmava que a canção havia sido gravada pelo Nirvana em 1991, gerando ainda mais provas do envolvimento de Kurt com o Hole. A versão da música foi lançada oficialmente no box do Nirvana “With the Lights Out”, em 2004, e totalmente creditada a Kurt. Eric Erlandson, guitarrista do Hole, afirmou que acreditava que Cobain havia escrito as notas, mas nunca as letras - elas teriam sido escritas por Courtney na versão gravada pelo Hole.
Em 1992, circulou uma edição da revista Vanity Fair que trazia Courtney Love afirmando fazer uso de heroína durante a gravidez. Kurt e Love ficaram muito estremecidos e perturbados com a notícia. Courtney insiste que a revista citou erroneamente alguma fala sua. O romance entre Kurt e Love sempre atraiu a atenção da mídia, mas o casal se viu cercado de repórteres como nunca antes após a publicação daquela Vanity Fair. Depois que o artigo foi publicado, muitos queriam saber, acidamente e sem qualquer pudor, se Frances era uma viciada em drogas ao nascer. A Comarca do Departamento de Serviços à Criança de Los Angeles levou o casal Cobain à corte, alegando que o uso de drogas fazia dele pessoas desqualificadas para serem pais. Quando Frances tinha apenas duas semanas de idade, o juiz ordenou que a guarda fosse retirada dos Cobain e concedida à irmã de Courtney, Jamie, por várias semanas. Para obterem novamente a guarda de Frances, Kurt e Courtney tiveram que ser submetidos a diversos exames de urina e visitas regulares de assistentes sociais, para que se pudesse assegurar as boas condições dos pais. Depois de meses de brigas legais e judiciais, o casal conseguiu obter a total custódia de sua filha.
Hoje em dia, ainda sustenta uma ligação muito forte com Kurt, ela diz que até hoje nunca mais conseguiu namorados fixos “Eu durmo ainda com os pijamas que ele usava” disse em uma entrevista. Com essa ligação Courtney afasta qualquer pessoa que possa querer namora-la. Essa ligação é ainda mais forte por Courtney ter herdado todo o legado de Kurt e do Nirvana, além de ter uma filha com ele. Em várias músicas do Hole e da carreira solo de Courtney podemos encontrar referências sobre Kurt, como as músicas: Doll Parts, Dying, Northern Star, Playing Your Song, Mono e Uncool. 14 anos após a morte de seu marido Courtney está prestes a lançar um novo álbum em que pelo menos uma das músicas podemos ver claramente que ela ainda fala sobre sua relação com Kurt, é a balada desesperada entitulada Pacific Coast Highway.
Vício nas Drogas
Praticamente do começo ao fim de sua vida, lutou contra a depressão, bronquite crônica e uma intensa dor estomacal nunca diagnosticada corretamente. Este seu último problema parecia associado ao seu bem-estar emocional, apesar das inúmeras tentativas que Kurt fez para descobrir sua causa verdadeira - nenhum dos médicos consultados foi capaz de especificar com precisão a causa dessa sua forte dor. Muitos sugeriram que o problema era resultado da escoliose que Cobain teve durante a infância, que estava relacionada com o forte stress durante as apresentações, somado ao peso da guitarra, que Kurt carregava nos ombros durante ensaios, gravações e apresentações.
Certamente, seu problema com as drogas foi o maior de todos os problemas que Kurt enfrentara na vida. Seu vício dramático, especial e praticamente pela heroína, foi um dos principais fatores, senão o principal, que o levou a optar por tirar sua própria vida, naquele abril de 1994. Kurt começou a experimentar drogas na oitava série, em 1980, quando passou a fumar maconha e a tomar LSD. Ele fumava baseados nas festas, depois com os amigos e, por fim, sozinho e diariamente. Quando chegou à nona série, era uma rematado maconheiro. A maconha era barata e abundante em Monte - a maioria cultivada em casa -, e ajudava Kurt a esquecer sua vida doméstica. O que começou como um ritual social se tornou seu anestésico favorito.
Ironicamente, tendo sido criado no fascínio pelo rock n’ roll, ele estava bem ciente de que muitos músicos que idolatrava haviam sucumbido ao abuso de drogas. E embora tivesse fumado maconha como um viciado, freqüentemente bebesse demais e fosse conhecido por inalar gases de latas de creme de barbear vazias, Kurt jurava que jamais sofreria um destino similar. Em 1987, durante um dos períodos sóbrios de reabilitação, ele castigou Jesse Reed (um colega na época) quando este sugeriu que experimentassem heroína. “Kurt não saiu mais comigo depois disso”, lembra Jesse. “Eu estava tentando encontrar heroína, uma droga que eu nunca havia experimentado e ele também não, e ele me veio com um sermão: “Por que você quer se matar? Por que você tem tanta vontade de morrer?.” Em uma história pessoal de drogas construída mais tarde na vida, Kurt escreveu que ele primeiro havia usado heroína em Aberdeen no final dos anos 80, mas não se sabe da veracidade do fato - seus amigos contestam, já que ele tinha medo de agulhas na época e não era possível achar heroína em seu círculo. De vez em quando tomava Percodan em Aberdeen, um narcótico vendido com receita; ele pode ter romantizado e exagerado esse opiato quando o evocou mais tarde.
No outono de 1990, magoado por problemas em seu relacionamento com Tobi Vail, as mesmas perguntas que Kurt fizera a Jesse anteriormente poderiam agora lhe ser feitas. No início de novembro, ele superou seu medo de agulhas e pela primeira vez (de que se sabe oficialmente) se injetou heroína com um amigo em Olympia. Descobriu que os efeitos eufóricos da droga o ajudavam temporariamente a fugir de suas dores de cabeça e de estômago. No dia seguinte, Kurt ligou para Krist. “Ei, Krist, eu tomei heroína”, disse ele a seu amigo. “Uau! E como foi?”, perguntou Krist. “Ah, foi tudo bem”, respondeu Kurt. Krist então lhe disse: “Você não devia fazer isto. Lembre-se de Andy Wood”. Wood era vocalista do Mother Love Bone, uma próspera banda de Seattle, que morreu de overdose de heroína em março de 1990. Novoselic citou outros amigos de Olympia que haviam morrido pelo vício com heroína. A resposta de Kurt foi bastante retraída: “É, eu sei”. Novoselic, desempenhando o papel de irmão mais velho, advertia Kurt de que a heroína não era como as outras drogas que ele tomara: “Lembro de lhe ter dito literalmente que estava brincando com dinamite”.
O aviso, contudo, caiu em ouvidos surdos. Embora Kurt prometesse a Krist que não tomaria a droga novamente, quebrou a promessa. Para evitar que Krist ou Grohl descobrissem, Kurt tomava a droga em casas de amigos. Descobriu um traficante chamado José, que estava vendendo para muitos que haviam recém-usado a droga em Olympia. Curiosamente, Dylan Carlson (um dos mais íntimos amigos de Kurt e aquele que inclusive comprou a espingarda que Kurt se suicidou) também havia experimentado heroína pela primeira vez naquele outono, embora sem Kurt. Mas logo a ligação entre os dois se estendeu à heroína - normalmente tomada uma vez por semana graças a diversos fatores que incluíam sua pobreza e seu desejo de não se tornarem viciados. Mas de vez em quando eles participavam de farras, como da vez que alugaram um quarto barato de hotel em Seattle para tomarem a droga reservadamente sem alarmar seus amigos ou colegas de quarto.
Mas os amigos de Kurt ficaram assustados por seu agravante uso de drogas. Tracy havia finalmente perdoado Kurt e eles estavam se encontrando de vez em quando. Quando Shelli (esposa de Krist) contou a ela que Kurt estava tomando heroína, ela não acreditou no que ouviu. Naquela semana, Kurt ligou para Tracy tarde da noite, obviamente alto, e ela o questionou diretamente. Sobre o assunto, Tracy recorda: “Ele me disse que havia tomado algumas vezes. Disse que realmente gostava e que a droga o deixava mais sociável. Mas disse que não ia tomar o tempo todo. Tentei ser imparcial, dizendo-lhe que ele não devia fazer isso, procurando não levá-lo a sentir-se mal por tê-la tomado”. Uma semana depois, eles passaram uma noite juntos, comparecendo a várias festas. Entre os eventos, Kurt insistiu que parassem em sua casa para que ele fosse ao banheiro. Como ele não voltava, Tracy foi procurá-lo e o encontrou no chão, com uma garrafa de alvejante ao seu lado e uma agulha no braço. Ela ficou furiosa: Kurt havia se tornado algo que Tracy não poderia ter imaginado mesmo em seu pior pesadelo. “Alvejante”, a tradução para “bleach”, era usado para esterilizar agulhas. A brincadeira do título do primeiro disco do Nirvana não parecia engraçada para mais ninguém. Mas a heroína foi apenas uma pequena parte de 1990 para Kurt, e, na maior parte, ele manteve sua promessa de tomá-la apenas ocasionalmente. Ele era distraído de tudo o mais pelo fato de que sua carreira estava decolando como nunca antes.
Contudo, seu uso de heroína só foi aumentando com o passar dos anos. Na época de Nevermind, em 1991, o uso da droga começou a afetar diretamente não só a vida de Kurt, mas como também o Nirvana. Cobain passava mal durante shows e sessões de fotos. Um memorável exemplo de um fato como este aconteceu durante a performance da banda no programa humorístico Saturday Night Live, em 1992, quando o Nirvana fazia uma sessão de fotos com o fotógrafo Michael Levine. Cobain mostrava sonolência, ficava oscilando entre um estado acordado e um adormecido, mesmo de pé (sonolência é um dos efeitos da droga). Sobre essa ocasião, Kurt falou ao principal biógrafo do Nirvana, Michael Azerrad: “Quero dizer, o que eles podiam fazer? Não podiam me fazer parar. Então eu não estava nem aí. Evidentemente, para eles parecia que eu estava sob o efeito de alguma bruxaria ou coisa do tipo. Não sabiam de nada sobre o assunto então imaginavam que a qualquer segundo eu poderia morrer”. Na mesma noite, após a apresentação no Saturday Night Live, Cobain apareceu na sala do DJ Kurt St. Thomas e deu uma das entrevistas mais longas de sua vida, num clima de conversa expontânea entre amigos. Várias horas depois, quando o sol estava se erguendo na manhã de domingo, Courtney descobriu que Kurt estava sofrendo com a overdose de heroína que ele havia tomado depois da entrevista. Se fora intencional, não se sabe, mas Kurt era um viciado com gama de descuidado. Ela salvou sua vida ressuscitando-o, e, depois disso ele parecia tão bem como nunca havia estado antes.
Com o agravamento do vício, Cobain reconheceu que precisava mudar. Sua primeira tentativa de se livrar dos vícios aconteceu em no começo de 1992, logo que Kurt e Courtney descobriram que seriam pais. Courtney também tentou se limpar. Embora ambos estivessem se desintoxicando por causa do bebê, Kurt teve de partir duas semanas depois de receber a notícia para uma excursão no Extremo Oriente. “Eu me vi percebendo que não conseguiria drogas quando chegássemos ao Japão e à Austrália”, escreveu ele em seu diário.
Os primeiros concertos na Austrália transcorreram normalmente, mas no prazo de uma semana Kurt estava sofrendo novamente com a dor de estômago, o que forçou o cancelamento de compromissos. Ele foi para uma sala de emergência uma das noites, mas saiu depois de entreouvir uma enfermeira dizer: “Ele não passa de um drogado”. Conforme escreveu em seu diário, “a dor me deixou imóvel, dobrado no chão do banheiro, vomitando água e sangue. Eu estava literalmente morrendo de fome. Meu peso estava abaixo de 45 quilos”. Desesperado por uma solução, procurou um médico australiano especializado em bandas de rock. Na parede do consultório, orgulhosamente exposta, estava uma foto do médico com Keith Richards. “A conselho dos meus empresários, fui levado a um médico que me deu Physeptone”, escreveu Kurt em seu diário. “As pílulas pareciam funcionar melhor do que qualquer outra coisa que eu tentara.” Mas algumas semanas mais tarde, depois que a excursão chegou ao Japão, Kurt notou que o rótulo do frasco dizia: “Physeptone - contém metadona” e escreveu em seu diário: “Viciado novamente.”
Pouco depois, Kurt e Courtney decidiram que se casariam no Havaí. À essa altura Kurt havia voltado a se injetar com heroína. Pouco antes da cerimônia, Kurt havia tomado heroína, embora tenha contado para Azerrad que “não estava muito alto. Eu só tomei um pouquinho e por isso não enjoei”. Uma vez que o casamento foi organizado às pressas, a maioria dos convidados, oito no total, incluindo Dave Grohl, era da equipe da banda. Kurt mandou Dylan Carlson tomar um avião para servir de padrinho, embora isso em parte tenha sido desencadeado por Kurt querer que Dylan levasse heroína para ele. Kurt não havia convidado sua família para o casamento. A ausência de Krist e Shelli foi muito notada. Na manhã do casamento, Kurt tinha banido Shelli e alguns membros da equipe porque achava que eles estavam fofocando sobre sua futura esposa - e efeito desse decreto também foi o de desconvidar Krist. “Kurt estava mudando”, lembra Shelli. Naquele mês, Kurt havia dito a Krist: “Eu não quero nem ver Shelli, porque quando olho para ela, eu me sinto mal pelo que estou fazendo”. A análise de Shelli é a seguinte: “Eu acho que olhar para mim era como olhar para a consciência dele”. Ficou claro que Kurt estava fechando-se em seu próprio mundo, totalmente chapado pelo amor que sentia por Courtney e visivelmente abalado pelo sério vício de heroína que adquirira.
Depois do casamento e de volta para Los Angeles, Kurt mais tarde desqualificou o seu maior consumo da droga dizendo que era “Muito menos turbulento do que todo mundo pensa”. Ele contou para Azerrad que decidiu continuar a ser um viciado porque achava que “se parasse na época, acabaria tomando de novo pelo menos pelos próximos dois anos o tempo todo. Imaginei que eu só iria me irritar com isso porque ainda não tinha passado pela sensação de drogado total. Eu ainda era saudável”. Sua dependência química e psicológica já era grande naquela etapa, e seus comentários eram uma tentativa de minimizar o que havia se tornado um vício debilitante.
A heroína se tornou, de diversas maneiras, o hobby que ele nunca tivera quando criança: ele organizava metodicamente sua caixa de “equipamentos” como um garotinho poderia organizar sua coleção de cards de beisebol. Nessa caixa sagrada ele guardava sua seringa, um fogareiro para derreter a droga (a heroína da Costa Oeste tinha a consistência de alcatrão de telhado e precisava ser aquecida), colheres e bolas de algodão usadas na preparação da heroína pra injetar. Um submundo desagradável de traficantes e entregas diárias se tornou comum na vida de Kurt.
Em março, a preocupação em torno da crescente dependência de Kurt e seu efeito em Courtney levou seus empresários a tentarem uma primeira intervenção formal. Contratam Bob Timmins, um especialista em dependência de drogas cuja fama se contruira no trabalho com astros do rock. O médico sugeriu que Kurt considerasse sua internação em um programa de tratamento de dependência química. “Meu conselho foi aceito. O motivo pelo qual recomentei esse programa específico era que ele era desenvolvido no hospital Cedars-Sinai, e eu achava que algumas questões médicas se evidenciaram em minha avaliação. Não se tratava de dizer apenas ‘faça o tratamento, desintoxique-se, vá para reuniões’. Havia muitas questões médicas envolvidas.”, disse Timmins.
No início, a permanência de Kurt no Cedars-Sinai ajudou-o consideravelmente, e logo ele parecia sóbrio e saudável. Mas, embora concordasse em continuar com a metadona - uma droga que bloqueia a síndrome de abstinência sem produzir euforia -, ele terminava o tratamento cedo e evitava as reuniões dos 12 Passos. “Ele definitivamente não era uma pessoa sociável. Essa parte de sua personalidade provavelmnente atrapalhava o processo de recuperação.”, disse Timmins.
Apesar da iniciativa, Kurt abandonou a clínica sem muito alarde. Jesse Reed, aquele velho colega de Kurt, o visitou em maio de 1992 e, no dia em que estiveram juntos, Kurt teve de tomar a droga duas vezes. Em ambas, ele entrou no banheiro para não fazê-lo na frente de seu mais velho amigo, ou de Courtney. Mas Kurt não se retraía em relação a discutir seu vício com Jesse. Passaram a maior parte do dia aguardando a entrega de um novo suprimento de heroína. Ironicamente, Jesse e Kurt passaram a maior parte da tarde assistindo um videoteipe mostrando um homem dando um tiro na cabeça. Kurt conseguiu a fita pirata numa loja de rapé. Ele assistiu obsessivamente ao suicídio durante 1992 e 1993 - quase tantas vezes quanto ao que assistiu ao ultra som de sua filha.
Atormentado por sua dor de estômago cada vez pior, Kurt considerou o suicídio. “Instantaneamente recuperei aquela conhecida náusea e queimação e deicidi me matar ou deter a dor. Comprei um revólver, mas preferi ficar com as drogas.”, escreveu em seu diário. Ele abandonou a metadona por um tempo e logo voltou de vez para a heroína. Quando nem sequer as drogas pareciam aliviar a dor, ele acabou decidindo tentar de novo o tratamento, depois de pressionado por Courtney e pelos empresários. No dia 4 de agosto de 1992, Kurt internou-se na unidade de reabiltitação de drogas do hospital Cedars-Sinai para sua terceira reabilitação. Ele havia começado a se consultar com um novo médico - consultara uma dúzia de especialistas em dependência química durante 1992 - e concordara com um programa de desintoxicação intensiva de dois meses. Foram dois meses de “fome e vômito. Enganchado a uma intravenosa e gemendo alto com a pior dor de estômago que eu jamais havia sofrido”, escreveu em seu diário.
Em 18 de agosto de 1992, nasce sua filha, Frances Bean Cobain. Cobain foi acompanhar o parto, que aconteceu no mesmo hospital em que fazia o tratamento. Sua reabilitação não estava indo bem - ele se via incapaz de ingerir comida e passava a maior parte do tempo dormindo ou vomitando. Courtney foi até a sala em que Kurt residia e o levou até a ala de obstetrícia. Ele estava em total fragildiade - com pouco mais de 47 quilos e ainda preso a uma intravenosa, mal conseguia respirar. Kurt desmaiou momentos antes de Frances despontar e não a viu passando pelo canal do nascimento. Mas depois que o bebê saiu e passou pelo sugador para limpá-lo, ele o pegou no colo. Foi um momento que descreveu como um dos mais assustadores de sua vida - “Eu estava apavorado pra cacete!”, declarou a Azerrad. Mesmo passando por um dos momentos mais intensos de sua vida, Kurt foi premiado com a felicidade ao ver e sentir sua filha chegando ao mundo.
No dia seguinte, Kurt escapou da unidade de desintoxicação do hospital, comprou heroína e aplicou-se e depois voltou com uma pistola calibre 38 carregada. Kurt ficou atordoado com o artigo publicado pela revista Vanity Fair, que dizia que Courtney afirmara aplicar heroína durante a gravidez. Foi até o quarto de Courtney, e a fez lembrar de um juramento que ambos haviam feito: se por alguma razão fossem perder o bebé, eles se matariam em duplo suicídio. Ambos temiam que Frances lhes fosse tirada, e Kurt receava que não conseguiria deixar a heroína. Courtney o convenceu a continuar vivendo, pelo menos naquele momento.
Mas o desespero de Kurt começou a tomar outras proporções àquela altura. No dia seguinte, ele conseguiu que uma traficante entrasse no Cedars-Senai e, em um quarto afastado da ala obstétrica, sofreu uma overdose. A traficante disse que “nunca tinha visto alguém tão morto”. Logo uma enfermeira foi encontrada e Kurt foi reanimado, derrotando mais uma vez a morte.
Em 2 de setembro, em Los Angeles, Kurt ainda tomava metadona e estava em reabilitação, embora tivesse trocado de centro de tratamento e agora fosse um paciente do Exodus, em Marina Del Rey. Krist o visitou no centro e achou que ele parecia mal: “Ele só ficava deitado na cama. Estava simplesmente estropiado. Depois disso, melhorou, porque ficou realmente estupidificado. Tudo era muito pesado; ele era pai, estava casado, era um astro do rock e tudo aconteceu de uma vez. Para quem quer que passasse por tudo aquilo, era muita pressão, mas ser viciado em heroína quando se estava passando por aquilo, é muito diferente.”
Kurt passava o tempo todo no Exodus fazendo terapia individual, em grupo e até reuniões dos 12 Passos. Durante a maioria das noites ele escrevia em seu diário, produzindo longos tratados sobre o assunto, passando pela ética do punk rock até o preço pessoal de se viciar em heroína: “Quase todos que experimentam drogas pesadas, ou seja, heroína e cocaína, acabarão se tornando literalmente escravos dessas substâncias. Eu me lembro de alguém ter dito: ‘se você experimentar heroína uma vez, ficará viciado’. É claro que eu dei risada e zombei da idéia, mas agora acredito que isto seja a pura verdade.” E embora Kurt usar seu estômago como desculpa para se drogar, quando sóbrio ele o contestava: “Eu sinto pena de todos aqueles que pensam que podem usar a heroína como medicamento, porque, hã, que nada, isto não funciona. Abstinência da droga é tudo aquilo que você já ouviu dizer. Você vomita, você se machuca, você sua, você caga na cama como naquele filme ‘Christiane F.’”.
Ele encontrou mais sucesso em seu tratamento quando começou a consultar o dr. Robert Fremont, um conselheiro de Los Angeles que também estava cuidando da dependência química de Courtney. Fremont não poderia ter sido mais controvertido: ele havia perdido sua licença para clinicar depois de ter receitado narcóticos para si mesmo. Ele acabou recuperando a licença e voltou a clinicar, tratando dos problemas de drogas de alguns dos maiores astros de Hollywood. Ele tinha sucesso numa profissão em que os índices de recaída são extraordinariamente altos, talvez porque tivesse experiência direta com o vício. Ele defendia a prescrição generosa de drogas legais a clientes que estavam se desintoxicando, metodologia que adotou com Kurt. Em setembro de 1992, Fremont começou a usar um plano experimental - e na época legal - de tratamento em Kurt, que envolvia ministrar-lhe doses diárias de buprenorfina. Derivado da morfina, este narcótico relativamente benigno estimula os receptores do opiato do cérebro e, com isso, pode cortar o desejo pela heroína, ou assim supunha Fremont. Em Kurt, o método funcionou, pelo menos temporariamente. Sobre o assunto, Kurt descreveu em seu diário: “Fui introduzido na buprenorfina, que descobri que alivia a dor do estômago em questão de minutos. Ela tem sido usada experimentalmente em alguns centros de desintoxicação para a interrupção do consumo de opiatos e de cocaína. A melhor coisa nela é que não há nenhum efeito colateral conhecido. Ela atua como um opiato, mas não deixa você alto. A classe de potência da buprenorfina é a de um barbiturato moderado, e numa escala de uma dez, é de grau um, e a heroína, grau dez.”
Em janeiro de 1993, o Nirvana visitou o Brasil para a realização de dois shows, um em São Paulo e outro no Rio de Janeiro. Kurt levou consigo doses de buprenorfina, e não heroína, pelo que tudo indica. Nesse período, o narcótico já não continha completamente seu desejo pela droga. Ele sofreu com a abstinência da heroína, que era muito difícil de ser encontrada no Brasil. Tentou compensar seu vício usando bolinhas e biritas. Apesar de muito atordoado, Kurt conseguiu se divertir com Courtney durante a estadia no Brasil.
Kurt e o Nirvana voltaram logo para os Estados Unidos. Cada um seguia sua vida, Kurt com seu vício, sua esposa e filha, mas a banda arrumou tempo para trabalhar e muito fez pelo próximo disco, “In Utero”. Entretanto, um dos momentos mais chocantes da vida de Kurt e de seus parentes e família aconteceu em maio de 1993, quando a emergência do 911 foi chamada na residência dos Cobain. Kurt havia sofrido uma overdose e Courtney disse aos policiais que ele se injetara “o equivalente a 30 ou 40 dólares de heroína”. Kurt, além de ter ficado azul e parecer estar morto, havia se trancado no quarto. Love conseguiu fazer com que a mãe e a irmã de Kurt viessem até o local, para ajudar. Courtney jogou água fria em Kurt, andou com ele pela casa, deu-lhe Valium e, finalmente, injetou-lhe Narcan, uma droga usada para neutralizar a heroína, mas nada disso o reanimou inteiramente (um estoque de Narcan, também obtida ilegalmente, era sempre mantido na casa para esta finalidade). Wendy tentou esfregar as costas de Kurt - o jeito que ela encontrou para confortar o filho -, mas a heroína deixava seus músculos mais rígidos do que um manequim de gesso. Quando os paramédicos chegaram, Kurt entrou na ambulância e a crise parecia afastada. No hospital, Kurt conseguiu ser um pouco animado e se tornou “hilário”, como lembra Kim, sua irmã: “Ele estava deitado no corredor de um hospital lotado, tomando soro por intravenosa e outras coisas para reverter as drogas. Estava deitado lá e começou a falar sobre Shakespeare. Então ele apagou e, cinco minutos depois, acordou e continou a conversa comigo.”
No verão de 1993, Kurt continua com seu vício pesado em drogas. Ele sentia-se culpado porque raramente conseguia se manter sóbrio. Embora estivesse exteriormente mais contente tomando drogas, por dentro, na contradição louca que é o vício, ele estava cheio de remorso. Seus diários eram marcados por lamentações sobre sua incapacidade de ficar sóbrio. Naquele verão, o médico de reabilitação de drogas de Kurt, Robert Frement, foi encontrado morto em seu escritório. Sua morte foi atribuída a um ataque cardíaco, embora seu filho insistia no fato de que o pai havia sucumbido ao uso de drogas e acabou suicidando-se com uma overdose. Numa entrevista concedida na época, Kurt mentia sobre seu uso em heroína - disse a Jon Savage, seu entrevistador, que “tomara heroína por cerca de um ano, de vez em quando”. Naquela noite, Kurt tomou uma overdose e quando acordou, parecia totalmente ressuscitado.
Em janeiro de 1994, Kurt e Courtney compraram uma nova casa em Seattle. Mudaram-se então para o Lake Washington Boulevard. Lá, Kurt tinha Dylan Carlson como principal companheiro e costumava injetar-se na companhia do amigo. Courtney tentou impedir que traficantes chegassem até a nova casa para entregas de novas remessas, mas Kurt contratou amigos para esconder as entregas nos arbustos. O uso de drogas por Kurt havia se expandido no curso de seu vício: se ele não conseguia encontrar heroína, injetava-se com cocaína ou metanfetamina, ou usava narcóticos com receita, como Percodan. Se todas essas outras fontes secavam, ele tomava doses maciças de benzodiazepina, na forma de Valium ou de outros tranqüilizantes - eles atenuavam seus sintomas de abstinência de heroína.
Últimas Semanas — Morte
Durante o começo de 1994 o Nirvana fazia uma turnê na Europa. O último show do Nirvana aconteceu no Terminal Einz, em Munique, Alemanha, em 1 de março. Um Kurt completamente estafado e com a voz visivelmente desgastada determina férias instantâneas - shows marcados para os dias 2 e 3 são cancelados e, depois, adiados para abril, quando a turnê européia teria sua segunda parte. Cobain é diagnosticado com bronquite e com uma grave laringite. Cobain vai para Roma, Itália, para descansar, se medicar e encontrar com Courtney Love. Courtney chega a Roma no dia 3 e encontra Kurt no Hotel Excelsior. O casal passou várias semanas sem se ver. As expectativas de Kurt pelo reencontro levam um banho de água gelada quando Courtney diz que está exausta e quer dormir. Quando ela acorda na manhãzinha do dia 4, Kurt está no chão, com o nariz sangrando. Ele havia tomado champanhe e cerca de 50 pílulas do tranqüilizante Rohypnol. Kurt deixa uma carta de despedida com três folhas, caracterizando a tentativa de sucídio. Mas, oficialmente, o fato é divulgado como uma dose excessiva e acidental de medicamentos. Na carta, Kurt diz que Courtney não o ama mais, e que ele preferia morrer a passar por mais um divórcio (o primeiro foi o de seus pais). Internado no hospital Umberto I, Kurt sai do coma no dia 5 e é transferido para o American Hospital, também em Roma. Recebe alta no dia 8 e volta para os Estados Unidos no dia 12.
Em 18 de março, chama a polícia de Seattle porque Kurt se trancou em um quarto da casa com um revólver. Os policiais conversam com ele, que afirma não ser um suicida e querer apenas ficar longe da esposa. Quatro armas que Cobain tem na casa são confiscadas.
Love planeja intervir seriamente nos problemas de Kurt, preocupada com seu vício em heroína. Dez pessoas envolveram-se no trabalho, incluindo colegas, amigos, executivos da gravadora e Dylan Carlson, um dos amigos mais íntimos de Kurt. Danny Goldberg, empresário do Nirvana, descreveu Cobain como sendo “extremamente relutante” e que “ele negava que estava fazendo qualquer coisa auto-destrutiva”. Contudo, Cobain concordou em se internar no Exodus, em Los Angeles, Califórnia, que aconteceu em 30 de março. Courtney estava na mesma cidade promovendo o novo disco do Hole, “Live Through This”. No dia 1º, por volta das 19:30h, Kurt saiu pelas portas dos fundos da Exodus sob o pretexto de fumar um cigarro e escalou o muro de pouco menos de dois metros de altura. E fugiu. Duas horas depois, Kurt usou seu cartão de crédito para comprar uma passagem de primeira classe para Seattle no vôo 788 da Delta. Antes de embarcar, ligou para a Seattle Limusine e marcou para ser apanhado no aeroporto - pediu explicitamente para que não enviassem uma limusine. Tentou falar com Courtney, mas ela não estava - deixou uma mensagem dizendo que havia ligado. Ela já o estava procurando em Los Angeles assim que soube que Kurt sairia do Exodus. Ficou convencida de que ele irira comprar drogas e provavelmente ter uma overdose. Kurt chegou em casa à 1:45h da manhã do sábado, 2 de abril. Ali, passou um tempo com o casal Cali e Jessica Hooper, colegas que estavam hospedados na casa. Horas depois, Kurt chamou um táxi e tentou comprar munição. Vendo que as lojas ainda estavam fechadas, Kurt desistiu e provavelmente se hospedou no motel Crest ou no Quest - que ficavam próximos de um de seus traficantes. Naquele dia ele também foi até a Seattle Guns e comprou uma caixa de cartuchos de espingarda calibre 20.
Com o intuito de descobrir o paradeiro de Kurt, Courtney cancelou todos os seus cartões de crédito. Nos dois dias que se seguiram, houve notícias dispersas de que Kurt havia sido visto. Na noite de domingo, 3, ele foi visto no restaurante Cactus, jantando com uma mulher magra, provavelmente sua traficante, Caitlin Moore, e um homem não identificado. Naquele domingo, Courtney ligou para detetives particulares das Páginas Amarelas de Los Angeles, até que encontrou um que estava trabalhando naquele fim de semana. Tom Grant e seu assistente Ben Klugman a visitaram naquela tarde. Ela disse que seu marido havia fugido do centro de reabilitação, que estava preocupada com a saúde dele e pediu a Grant que vigiasse o apartamento da traficante Caitlin Moore, onde ela imaginava que Kurt poderia estar. Grant subcontratou um detetive de Seattle, dando-lhe ordens para observar a casa de Dylan Carlson e o apartamento de Caitlin. A vigilância foi montada naquele mesmo domingo. Entretanto, os detetives não montaram guarda imediatamente na casa de Kurt, que ficava no Lake Washington Boulevard.
Na segunda-feira, 4, pediu que a polícia verificasse a casa em Lake Washington. Os policiais passaram por lá várias vezes, mas não viram nenhum movimento. Naquele dia, à noite, Cali saiu de casa, deixando Jessica sozinha no quarto dele. Por volta da meia-noite, ela ouviu ruídos. “Ouvi passos no andar de cima e no corredor”, lembra ela. Gritou um “oi” mas não ouviu resposta. Estima-se que era Kurt chegando naquele começo de madrugada. Cali só voltou depois das três da manhã, e ele e Jessica dormiram até tarde da manhã seguinte.
Na tarde de terça-feira, 5, Courtney mandou Eric Erlandson, seu amigo e guitarrista do Hole, ir até a casa do Lake Washington procurar por Kurt. Ele encontrou-se com Cali e Jessica e os três procuraram por Kurt, armas e drogas. Tentativas todas em vão. Ninguém pensou em procurar na garagem e na estufa, e Erlandson saiu apressado rumo à casa em Carnation, onde a irmã de Kurt morava na ocasião. Na quarta, 6, Jessica e Cali deixaram a casa dos Cobain, mas na tarde de quinta, 7, Courtney conseguiu falar com o casal e ordenou que procurasse por Kurt mais uma vez na casa do Lake Washington. Os dois foram até lá juntos com uma amiga, Bonnie Dillard. Não encontraram nada e deixaram um bilhete com um sermão para Kurt e mandando-o procurar por Courtney. Logo que foram embora, Dillard mencionou que talvez tivesse visto algo perto da garagem, mas, amedontrados, ninguém quis voltar para checar.
Dois dias antes, 5, nas horas que antecediam a alvorada de terça feira, Kurt Cobain havia despertado em sua cama. Os travesserios ainda tinham o cheiro do perfume de Courtney. No quarto, o aroma misturou-se com o cheiro ligeiramente picante da heroína cozida - este também era um cheiro que o despertava.
Kurt havia dormido com suas roupas do corpo. Vestia sua camiseta da banda Half Japanese e suas calças Levi’s favoritas. Vestiu e amarrou os cadarços do par de tênis Converse que possuia, caminhou até o aparelho de som e colocou para tocar um disco do R.E.M., “Automatic for the People”. Acendeu um Camel Light e caiu de costas na cama com um bloco tamanho ofício apoiado em seu peito e uma caneta vermelha de ponta fina. Ele já havia escrito uma longa carta pessoal à sua esposa e filha, rapidamente rabiscada, enquanto estava no Exodus. Ele havia trazido o papel até Seattle e havia enfiado sob um dos travesseiros impregnados de perfume. “Você sabe, eu amo você. Eu amo Frances. Eu sinto muitíssimo. Por favor, não venha atrás de mim. Eu sinto muito, muito, muito.”, eram algumas das palavras que Kurt havia escrito, enchendo uma página inteira com esse pedido de perdão. “Eu estarei lá”, continuou ele. “Eu protegerei você. Não sei para onde estou indo. Simplesmente não posso ficar mais aqui.”
Tinha sido muito difícil escrever aquele bilhete, mas ele sabia que esta segunda carta seria igualmente importante e ele precisaria ter cuidado com as palavras. Ele endereçava “Para Boddah”, o nome de seu amigo de infância imaginário. Quando soltou a caneta, havia enchido a página inteira, exceto por cinco centímetros. Ele fumara três cigarros redigindo o bilhete. As palavras não tinham saído com facilidade e havia erros de grafia e sentenças pela metade. Ele assinou dizendo “paz, amor e empatia. Kurt Cobain”. Escreveu ainda mais uma linha - “Frances e Courtney, eu estarei em seu altar” - e enfiou o papel e a caneta no bolso esquerdo do casaco.
Ele se levantou da cama e entrou no closet, onde retirou uma tábua da parede. Neste cubículo secreto havia uma arma dentro de uma capa de náilon bege, uma caixa de cartuchos de espingarda e uma caixa de charutos Tom Moore. Ele repôs a tábua, enfiou os cartuchos no bolso, agarrou a caixa de charutos e aninhou a pesada espingarda sobre seu antebraço esquerdo. Em um closet do corredor, ele apanhou duas toalhas - ele não precisava delas, mas sabia que alguém precisaria. Desceu silenciosamente os dezenove degraus da larga escadaria. Estava a cerca de um metro do quarto de Cali e não queria que ninguém o visse. Ele havia refletido sobre tudo isso, traçado um mapa com a mesma premeditação que dedicava às capas de seus discos e a seus vídeos. Haveria sangue, muito sangue, e uma bagunça que ele não queria em casa. Principalmente, ele não queria assombrar aquele lar, deixar sua filha com o tipo de pesadelos com que ele havia sofrido.
Quando se dirigia para a cozinha, passou pela soleira da porta onde ele e Courtney haviam começado a acompanhar o quanto Frances havia crescido. Apenas uma linha estava ali agora, uma pequena marca de lápis com o nome dela a cerca de 79 centímetros acima do chão. Kurt nunca mais veria outra marcas mais altas naquela parede, mas estava convencido de que a vida de sua filha seria melhor sem ele.
Na cozinha, ele abriu a porta de sua geladeira Traulson de aço inox de 10 mil dólares e apanhou uma lata de cerveja de raizes da Barq, tomando cuidado para não soltar a espingarda. Levando essa carga macabra - cerveja de raízes, toalhas, uma caixa de heroína e uma espingarda, tudo o que mais tarde seria encontrando num arranjo de plantas bizarro -, ele abriu a porta para o quintal e atravessou o pequeno pátio. A aurora estava rompendo e a neblina pairava próximo do chão. A maioria das manhãs em Aberdeen eram exatamente assim: nevoentas, orvalhadas, úmidas. Ele jamais veria Aberdeen novamente; jamais escalaria efetivamente até o topo da caixa d’água no “Morro do Think of Me”; jamais compraria a fazenda que sonhava em Grays Harbor; jamais acordaria novamente numa sala de espera de hospital tendo fingido ser um visitante para só encontrar um lugar quente para dormir; jamais veria novamente sua mãe, irmã, pai, mulher ou filha. Ele trilhou os cerca de vinte passos até a estufa, galgou os degraus de madeira e abriu o conjunto de portas francesas dos fundos. O piso era de linóleo: seria fácil de limpar.
Ele sentou-se no chão da estrutura de cômodo único, olhando para as portas da frente. Ninguém conseguiria vê-lo ali, a menos que estivesse trepado nas árvores atrás de sua propriedade, e isto não era provável. Não queria mais ver o interior de um hospital novamente, não queria um médico de jaleco branco apalpando-o, não queria ter um endoscópio em seu estômago dolorido. Ele estava acabado para aquilo tudo, acabado para o seu estômago, ele não poderia estar mais acabado. Como um grande diretor de filmes, ele havia planejado este momento até os mínimos detalhes, ensaiando esta cena ao mesmo tempo como diretor e como ator. No curso dos anos, tinha havido muitos ensaios finais, passagens de raspão que quase seguiam este caminho, fosse por acidente ou, às vezes, por querer, como em Roma. Talvez fora sempre isto que ele guardava vagamente em sua cabeça, como um ungüento precioso, como a única cura para uma dor que jamais passaria. Ele não se importava com a liberação do desejo, ele desejava a libertação da dor.
Ficou sentado pensando coisas que só ele sabia por vários minutos. Fumou cinco Camel Light e sorveu vários goles de sua cerveja. Tirou o bilhete do bolso, estendeu-o no chão do linóleo e tinha de escrever em letras maiores, que não saíram tão perfeitas, por causa da superfície que ele estava: “Por favor, vá em frente, Courtney, por Frances, pela vida dela que será muito mais feliz sem mim. Eu te amo. Eu te amo”. Essas últimas palavras haviam completado a folha. Depositou o bilhete no alto de um monte de terra para vasos e fincou a caneta no meio, para que, como uma estaca, segurasse o papel no alto, sobre a terra.
Tirou a espingarda da capa de náilon macia. Dobrou cuidadosamente a capa, como um garotinho separando suas melhores roupas de domingo depois da missa. Tirou a jaqueta, estendeu-a sobre a capa e colocou as duas toalhas no alto desse monte. Ele foi até a pia e apanhou uma pequena quantidade de água para o seu fogareiro de droga e sentou-se novamente. Abriu a caixa com 25 cartuchos de espingarda e tirou três, enfiando-os na câmara da arma. Moveu o mecanismo da Remington para qu e um único cartucho estivesse na câmara. Retirou a trava de segurança da arma.
Fumou seu último Camel Light. Tomou mais um gole da Barq. Lá fora, estava começando um dia nublado - era um dia como aquele em que ele chegara a este mundo, 27 anos, um mês e dezesseis dias antes. Ele agarrou a caixa de charutos e tirou um pequeno saco plástico que continha cem dólares de heroína preta mexicana - era um bocado de heroína. Ele pegou cerca de metade, um chumaço do tamanho de uma borracha de lápis e o colocou na colher. Sistemática e habilmente, preparou a heroína e a seringa, injetando-a logo acima do cotovelo, não muito longe de seu “K” tatuado. Devolveu os instrumentos para a caixa e se sentiu uma nuvem, rapidamente flutuando para longe deste lugar. O jainismo pregava que havia trinta céus e sete infernos, todos dispostos em camadas ao longo de nossas vidas; se ele tivesse sorte, este seria seu sétimo e último inferno. Afastou para o lado seus instrumentos, flutuando cada vez mais rápido, sentindo sua respiração se reduzir. Ele tinha de se apressar agora: tudo estava se tornando nebuloso e um matiz verde-água enquadrava cada objeto. Agarrou a pesada espingarda, encostou o cano contra o céu de sua boca. Faria barulho; ele tinha certeza disso. Disparou. E então ele se foi.
O corpo de Kurt foi encontrado pelo eletricista Gary Smith, que chegou à casa do Lake Washington para instalar um novo sistema de segurança. Às 8:40h da sexta-feira, 8, Smith estava perto da estufa e olhou para dentro dela. “Eu vi um corpo estendido lá no chão. Pensei que fosse um manequim. Depois notei que havia sangue na orelha direita. Vi uma espingarda estendida ao longo de seu peito, apontando para seu queixo”, relatou Gary. Ele ligou para a polícia e, em seguida, para sua empresa.
Enquanto isso, em Los Angeles, Courtney havia sido internada no Exodus na quinta-feira, 7, para reabilitação. Na sexta, recebeu a notícia da morte de Kurt através da colega Rosemary Carroll. Courtney deixou a cidade num Learjet com Frances, Rosemary, Eric Erlandson e a babá Jeackie Farry. Quando chegaram à casa do Lake Washington, ela estava cercada por equipes dos telejornais.
Foi possível identificar o cadáver como sendo de Kurt, embora seu aspecto fosse macabro: as centenas de bolinhas de chumbo do cartucho da espingarda haviam espandido sua cabeça e o haviam desfigurado. A polícia retirou as digitais do corpo e as impressões batiam com àquelas já arquivadas no caso da prisão por violência doméstica.
A autópsia encontrou traços de benzodiazepinas (tranquilizantes) e heroína no sangue de Kurt. O nível de heroína era tão algo que mesmo ele - famoso pela enorme quantidade que tomava - não poderia ter sobrevivido por muito mais tempo do que aquele que levou para disparar a arma.
Courtney estava inconsolável. Quando os policiais finalmente deixaram o local, e com apenas um guarda de segurança como testemunha, ela reconstitiu os últimos passos de Kurt, entrou na estufa - que ainda tinha de ser limpa - e mergulhou as mãos em seu sangue. No chão, ajoelhada, ela rezou e gemeu de dor, erguendo as mãos cobertas de sangue para o céu e gritou: “Por quê?!”. Ela encontrou um pequeno fragmento do crânio de Kurt com cabelo preso a ele. Ela lavou e passou xampu nesse horripilante suvenir.
No sábado, 9, Courtney foi até a agência funerária para ver o corpo de Kurt antes de ser cremado - ela já tinha solicidado que fossem feito moldes de gesso de suas mãos. Grohl tambem foi convidado e declinou, mas Krist compareceu, chegando antes de Courtney. Ele passou alguns momentos a sós com seu velho amigo e desatou a chorar. Quando ele saía, Courtney foi introduzida na sala de inspeção. Kurt estava sobre uma mesa, vestido com suas roupas mais elegantes, mas seus olhos tinham sido costurados. Era a primeira vez em dez dias que a Courtney viu o marido e foi a última vez que seus corpos físicos ficaram juntos. Ela acariciou seu rosto, falou com ele e cortou uma mecha de seus cabelos. Depois, baixou as calças dele e cortou uma mecha de seus pêlos púbicos. Finalmente, ela subiu em cima de seu corpo, abraçando-o com as pernas e recostou a cabeça em seu peito e lamentou: “Por quê, por quê?”.
Diversas cerimônias foram realizadas em memória de Kurt. Umas das mais notáveis aconteceu numa tarde de domingo: uma vigília pública foi realizada no Pavilhão da Bandeira do Seattle Centre e reuniu 7 mil pessoas, que levaram velas, flores, cartazes e algumas camisas de flanela em chamas. Um conselheiro de suicídio discursou e incentivou os jovens em dificuldades a pedirem ajuda, enquanto os DJs lcocais trocavam recordações. Uma mensagem curta de Krist foi divulgada, bem como uma fita de Courtney, que leu também a carta de despedida de Kurt.
O corpo de Kurt Cobain foi cremado e Courtney recebeu a urna com as cinzas uma semana depois. Ela pegou um punhado e o enterrou sob um salgueiro na frente da casa. Em maio, colocou o resto numa mochila de ursinho e viajou até o mosteiro budista Namgyal, perto de Ítaca, estado de Nova York, onde procurou consagração para as cinzas e absolvição pra si mesma. Os monges abençoaram os restos e usaram um punhado para fazer uma escultura comemorativa.
A maior parte dos restos mortais de Kurt ficou depositada em uma urna no endereço do Lake Washington, até 1997, quando Courtney vendeu casa, mas insistiu num arcordo que lhe permite voltar um dia e remover o salgueiro.
Por fim, Frances Bean Cobain, então com seis anos de idade, espalhou as cinzas do pai no riacho McLane, em Olympia, Washington - elas dissolveram e flutuaram na corrente. Em diversos sentidos, este era, também, um local adequado para o descanso…
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